PREÇO DO PETRÓLEO SOBE AO IMPACTO DO FUROR LÍBIO SOBRE OS MERCADOS

Por:  CLIFFORD KRAUSS CHRISTINE HAUSER – TRADUÇÃO DE FRANCISCO VIANNA (todos os links em azul levam à páginas em inglês)

 

HOUSTON, TEXAS — A agitação política que varre o mundo árabe fez já o preço do petróleo subir muito mais rapidamente do que as ações na terça feira de ontem, apesar dos esforços sauditas de acalmarem as turbulências nos mercados.

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Ali al-Naimi, ministro saudita, com o vice-ministro do petróleo, Príncipe Abdulaziz bin Salman, disse que a OPEP agiria para anular qualquer diminuição no abastecimento de óleo cru.

A agitação social que tem se espalhado da Tunísia à Líbia fez o preço do petróleo voltar aos níveis de dois anos atrás e proporcionou um aumento nos preços da gasolina e demais combustíveis nos postos americanos. O fantasma do aumento dos custos com a energia e de aceleração da inflação, por sua vez, têm tirado o sono dos investidores.

O petróleo está agora com preços não vistos desde que a recessão começou, e está mais de 20 dólares acima das metas estabelecidas nos últimos meses pelas autoridade sauditas para o barril, um aumento forte o suficiente para satisfazer os principais produtores mas não tão forte que possa sufocar a recuperação da economia global.

Embora os suprimentos da mercadoria ainda sejam abundantes em termos de oleo e gasolina nos Estados Unidos e na maior parte do mundo, os consumidores americanos estão agora pagando uma média de US$3.17 o galão de gasolina regular (o que não chega a um dólar o litro – menos de R$1,70 – ainda bem menos que o brasileiro paga pela “garapa” que compra na bomba), um aumento médio, no entanto, de 6 centavos de dólar pelo galão em relação ao que comprava na semana passada, conforme os dados diários da AAA (American Autoclub Association). Com os consumidores pagando cerca de 50 centavos a mais pelo galão (cerca de 3,6 litros) em relação ao que pagavam há um ano, os analistas estão preocupados com a possibilidade dos preços chegarem rapidamente a 3,50 dólares o galão (ainda um pouco abaixo de um dólar o litro) no próximo verão.

“Preços mais altos pela energia agem como se fossem aumentos de impostos para os consumidores, reduzindo um pouco a quantidade adquirida e aumentando discretamente a sua capacidade de mobilização”, disse Lawrence R. Creatura, um gerente de carteira da ‘Investidores Federados’. “Tais preços representam uma potencial ventania de frente adicional para os varejistas”. 

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Shannon Stapleton/Reuters – Os americanos estão pagando uma media de 3,17 dólares o galão da gasolina regular, 6 centavos de dólar a mais do que na semana passada.

Tais preocupações fizeram cair o índice Dow Jones industrial em 178,46 points, ou 1,44 por cento, situado hoje em 12.212,79. O índice mais abrangente das 500 principais ações da Standard & Poor declinou 27,57 pontos, ou 2,05 por cento, e hoje está em 1.315,44, enquanto o índice Nasdaq composto perdeu 77,53 pontos, ou 2,74 por cento, situando-se em 2.756,42 no início desta semana. Os mercados asiáticos e europeus cambem caíram para patamares semelhantes. Os preços das obrigações do Tesouro subiram nos Estados Unidos.

O ministro do petróleo da Arábia Saudita correu em reassegurar que os mercados na terça feira de ontem não teriam problemas de fornecimento da mercadoria, dizendo que a OPEP estava pronta para extrair mais petróleo para compensar qualquer eventual diminuição causada pela situação política turbulenta no Oriente Médio e no Norte da África. Pelo menos 50.000 barris/dia de produção já foram interrompidos na Líbia. Isto é só uma pequena fração da produção do país, mas com as petroleiras  estrangeiras parando de produzir e se dedicando à evacuação de seus trabalhadores do país e com os portos locais fechados, mais produção será perdida.

“A OPEP está pronta para fazer frente a qualquer diminuição no abastecimento de petróleo aos seus compradores quando isso vier a acontecer”, disse o ministro saudita Ali al-Naimi, numa conferência de imprensa após uma reunião dos ministros encarregados pela produção e consumo das nações em Riad, na Arábia Saudita. “Há medo e preocupação, mas ainda não há escassez do produto”. 

A Europa parece a mais imediatamente vulnerável às convulsões sociais na Líbia, país que produz quase 2 por cento do óleo do mundo. Mais de 85 por cento é exportado para a Europa; mais de um terço vai só para a Itália. A Líbia exporta apenas uma pequena fração de sua produção de petróleo para os Estados Unidos, mas, pelo fato do petróleo ser uma mercadoria globalizada, os americanos não estão imunes às ondas de choque dos preços internacionais, também globalizados.

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Mary Altaffer/Associated Press – Os empresários estão pagando mais pelo petróleo.

Em Nova Iorque, o petróleo cru para entrega em março aumentou 7,37 dólares por barril, ou 8,6 por cento, passando a 93,57 dólares o barril, enquanto o petróleo para entrega em abril subiu 6,4 por cento, indo para 95,42 dólares o barril. O petróleo tipo Brent, de referência européia e negociado em Londres, subiu 4 centavos de dólar o barril, e foi para 105,78 dólares/barril. As refinarias das costas leste e oeste dos EUA também dependem do petróleo bruto tipo Brent, o que significa que o aumento dos preços pagos pelos europeus também estão pressionando para cima a gasolina e aquecendo os preços dos combustíveis pagos por muitos nova-iorquinos, neo-ingleses (Nova Inglaterra) e outros norte-americanos.

Tom Kloza, o principal analista de petróleo do Serviço de Informações sobre o Preço do Petróleo (Oil Price Information Service), estima que os sauditas poderiam bombear um adicional de 1 milhão a 1,5 milhão de barris/dia em questão de dias. Como o maior produtor, a Arábia Saudita é, de longe, o membro mais influente da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), com uma capacidade de reserva para entregar mais quatro ou cinco milhões de barris/dia aos mercados mundiais após algumas semanas de preparação, esse montante potencial de abastecimento representa mais do que o dobro daquilo que os mercados de petróleo do mundo inteiro perderiam caso a produção líbia seja interrompida completamente por seus problemas sociais.

"A menos que tal instabilidade social se alastre pelas ruas de Jeddah e Riad", disse Kloza, "acho que é uma situação muito manejável e os preços estão mais perto de sofrer apenas pequenas flutuações e não deverá haver uma explosão maior". 

Apesar de a Líbia ter sido a causa imediata para dos pequenos picos de aumento dos preços do petróleo recentemente, os especialistas em petróleo, disseram que os empresários que comercializam o produto estavam experimentando tais subidas nos preços em função das preocupações de que um longo período de instabilidade no Oriente Médio esteja apenas começando. Eles identificaram os protestos no Bahrein, em especial, como um sinal inquietante de que a vizinha Arábia Saudita pode não estar imune ao contágio político.

O Barein produz pouco óleo, mas é ligado à região rica em petróleo do leste da Arábia Saudita por uma ponte de 15 quilômetros. A ilha tem uma população de maioria xiita com laços culturais e religiosos para a minoria xiita da Arábia, que vive perto de alguns dos mais ricos campos de petróleo da Arábia Saudita.

Os governantes sauditas temem que seu rival regional, o Irã, possa tentar desestabilizar o Barein como uma forma de causar problemas para a família real saudita. As intenções iranianas tornaram-se mais preocupante para os sauditas quando os persas decidiram enviar neste mês dois navios de guerra pelo Canal de Suez, pela primeira vez em mais de 30 anos.

"Ninguém sabe no que isso pode dar", disse Helima L. Croft, um diretor e estrategista geopolítico sênior da ‘think tanker’ Barclays Capital. "Há um par de semanas, foi a Tunísia e o Egito e pensava-se que isso poderia ser contido na África do Norte e nos países pobres de recursos do Oriente Médio. Mas agora, com protestos no Barein, que é o coração do golfo, mais ansiedade é adicionada à situação. "Os campos de petróleo do Oriente Médio são, geralmente, bem defendidos e longe de centros populacionais, mas os analistas de energia dizem que a persistência de turbulências ameaça potencialmente as linhas de abastecimento e os investimentos estrangeiros, dos quais produtores como a Líbia e a Argélia dependem para aumentar a produção.

Os preços internacionais do petróleo começaram a subir acentuadamente quando os manifestantes congestionaram as ruas do centro da cidade do Cairo, no início do mês, causando preocupações que a agitação poderia evoluir para um bloqueio do gasoduto de Sumed no Canal de Suez, através do qual fluem diariamente cerca de três milhões de barris de petróleo exportados. A agitação laboral continua a perturbar o canal, embora os embarques de petróleo tenham continuado sem incidentes.

A agitação no Iêmen potencialmente ameaça o estreito de 18 milhas de largura de Bab el-Mandeb, uma rota marítima entre o Chifre da África e o Oriente Médio, e que serve como uma ligação estratégica entre o oceano Índico e o mar Mediterrâneo através do qual quase quatro milhões de barris de petróleo passam diariamente. A segurança para o tráfego de petroleiros na região tornou-se uma preocupação desde que terroristas atacaram um navio francês na costa do Iêmen em 2002.

(Clifford Krauss escreveu esta material de Houston, Texas, e Christine Hauser de Nova Iorque, ambos para o jornal The New York Times).

Saudações,

 

  

Francisco Vianna