Prezados amigos,

Nunca imaginei que uma vida inteira dedicada a minha cidade pudesse um dia ser
mal interpretada ao ponto de ser vista como crime pelos olhos de quem mais
deveria promover a justiça.
Nasci em Gramado, e hoje com 60 anos, sou casado, pai de dois filhos – que
também são casados – e avô.
Meus pais me ensinaram a amar Gramado desde criança, e a partir dos seus
exemplos, escolhi dedicar minha vida toda para ajudar a torná-la uma cidade
melhor. Nesta jornada, fui duas vezes Secretário Municipal de Turismo, presidi
as Comissões Organizadoras dos maiores eventos de Gramado, tais como da Festa
das Hortênsias, da FEARTE (Feira Nacional do Artesanato), do Festival do Cinema
de Gramado e do Natal Luz. Também criei ou participei da criação do Natal Luz,
da Festa da Colônia, da Visão – Agencia de Desenvolvimento da Região das
Hortênsias, do Convention & Visitors Bureau da Região das Hortênsias, da Abrasel
Gramado, da Associação de Malhas, da Associação dos Chocolates, da Associação
dos Móveis, entre outros. Recentemente, também participei da criação do
Instituto Natal Luz Pedro Henrique Benetti, o que hoje entendo ser minha última
contribuição coletiva para Gramado.
Há 11 anos, meu amigo Pedro Bertolucci assumia a prefeitura de Gramado pela
terceira vez, tendo escolhido meu filho Felipe como secretário de Turismo, que
recém havia chegado de uma experiência de 18 meses de trabalho na Disney. Ambos
me chamaram para ajudar a reinventar o Natal Luz, que na época tinha um formato
que a maioria dos gramadenses já não aprovava mais. Detectamos que havia dois
problemas principais: o de receber muita gente de forma concentrada em dois dias ao
longo do mês, que na sua maioria não dormiam nos hotéis e não jantavam nos
restaurantes;  e que os recursos de patrocínios eram minguados, fazendo com que
o evento dependesse basicamente de verbas da Prefeitura Municipal. A solução que
propusemos: adotar o modelo de Parque Temático que meu filho havia aprendido na
Disney para o Natal Luz, e criar um projeto consistente para ampliar a nossa
capacidade orçamentária através de patrocínios, além de gerar recursos próprios.
Sendo assim, montamos uma programação com diversas atrações criadas para serem
repetidas ao longo do mês, incentivando que os visitantes passassem mais noites
em Gramado e viessem de forma distribuída, e não concentrada. Nos focamos
principalmente em duas atrações que nos chamaram muita atenção na Disney: um
desfile temático e um show de fogos e águas dançantes. Após muito trabalho,
viagens, experimentos, criatividade e dedicação de uma legião de voluntários
liderados por mim, nasciam o Nativitaten e o Grande Desfile de Natal, e de fato
reinventávamos o Natal Luz de Gramado. Graças ao audacioso projeto, conquistamos
grandes patrocinadores e parceiros, e ampliamos em 10 vezes o orçamento do
evento, que passou de R$ 200 mil no ano 2000 para R$ 2 milhões em 2001. A
receita deu certo e o evento foi um sucesso, superando todos os seus objetivos.
Nestes últimos 10 anos, o Natal Luz se transformou não só no maior evento de
Gramado, como em um dos maiores do Brasil e talvez o maior do gênero no mundo.
Na sua última edição, 20 diferentes atrações – todas criadas por nós – somaram
mais de 500 apresentações numa temporada de 74 dias que atraiu a Gramado mais de
1 milhão de visitantes de todas as partes do Brasil. Empregamos 2 mil pessoas
diretamente e outras 7 mil indiretamente. Transformamos 350 mil garrafas PET em
decoração natalina. Provocamos a maior taxa de ocupação hoteleira da história de
Gramado, chegando a 84% em Dezembro com estada média de 4,5 dias na cidade. O
25º Natal Luz gerou diretamente R$ 5,3 milhões em impostos municipais e
movimentou cerca de meio Bilhão de Reais na economia do Estado do RS. Quanto ao
seu orçamento, conquistou sua auto-sustentabilidade gerando receita de mais de
R$ 17 milhões, sendo 0,1% de recursos municipais, 25% de patrocínios
incentivados, 15% de patrocínios não incentivados e 59,9% de recursos próprios,
gerados pela venda de ingressos, souvenirs e outros. Além disso, realizamos 10
ações sociais diferentes que somaram mais de R$ 1 milhão. Também tivemos a
melhor avaliação histórica do evento, tanto pelos visitantes (93% avaliaram como
Ótimo) quanto pelos moradores de Gramado (83% avaliaram como Ótimo), e geramos
cerca de R$ 15 milhões em mídia espontânea para a cidade de Gramado. Por último,
e talvez o mais importante, criamos o Instituto Natal Luz, que de forma gratuita
formou nos últimos dois anos através da Escola das Artes Pedro Henrique Benetti,
mais de 400 novos artistas da comunidade nas modalidades de escultura, teatro,
teatro de bonecos, dança, técnica vocal e circo, com o objetivo de dar
continuidade a esta história que durava 25 anos.
Na última sexta-feira 29 de julho, Gramado foi surpreendida por uma operação do
Ministério Público local chamada de “Papai Noel”, que denunciava uma suposta
“quadrilha de mafiosos” que haviam desviado mais de R$ 8 milhões do Natal Luz.
Na denúncia já ajuizada do suposto “esquema” envolvendo 34 pessoas, fui
enquadrado como “chefe do bando”. Apesar de todos sabermos que o Natal Luz é um
evento da comunidade de Gramado, realizado por uma associação PRIVADA sem fins
lucrativos, com o APOIO da Prefeitura de Gramado e das leis de incentivo a
cultura, e que este formato de realização do evento é o mesmo adotado pelo
Festival de Cinema de Gramado, pela Festa da Uva de Caxias, pelo Carnaval do
Rio, pela Feira do Livro de Porto Alegre, entre tantos outros, toda denúncia
está baseada numa teoria criada e defendida pela acusção de que o Natal Luz é um
evento público, e que portanto eu e meus ex-colegas de Comissão Organizadora
exercíamos temporariamente a função de funcionários públicos. Assim, de um
montante de cerca de R$ 47 milhões de receitas nos últimos 4 anos do Natal Luz,
cerca de R$ 8 milhões pagos pela soma dos serviços comprovadamente prestados
pelas empresas dos organizadores, de seus parentes e de amigos durante o mesmo
período, estão incorretos. A denúncia também afirma que eu era líder de uma
quadrilha formada tão exclusivamente com o objetivo de cometer o crime de
peculato, além de manipular todos os envolvidos ao meu favor. Já dizia Salvador
Dalí: - Eu meço o sucesso da minha obra pela inveja que ela causa.
Aliado a denúncia do Ministério Público, meu nome, o de minha família e o de
meus amigos vem sendo alvos de um sensacionalismo midiático ímpar que já nos
condenaram social e antecipadamente pelo resto de nossas vidas. A dor
causada por esta condenação social é insuportável e indescritível.
Estou confiante que a justiça será feita, e que toda esta má interpretação será
esclarecida um dia. Espero que a partir dele, eu e minha família possamos
recuperar nossa moralidade que foi roubada de forma tão violenta.
Na data de hoje, fomos afastados legalmente do Natal Luz e de outros eventos da
comunidade pela Juíza de Gramado, Dra. Aline Rissato. Me despeço na certeza de
que nas 17 edições a qual fui Presidente da Comissão do Natal Luz – 13 delas de
forma voluntária – realizei meu trabalho com toda dedicação e amor de quem cria
um filho. Desejo toda sorte e sucesso para quem assume este legado que deixamos
ao longo de tantos anos de trabalho, e que pertence a cada um dos gramadenses.
Agradeço imensamente pela confiança depositada e a parceria cultivada nestes
anos todos. Espero que eu e minha equipe tenhamos cumprido com o que nos
comprometemos com vocês, e que possamos estar juntos em outros projetos de
sucesso no futuro.

          “É MARAVILHOSO OLHAR PARA TRÁS APÓS UMA CAMINHADA FEITA E VER UM POUCO DA
           PRÓPRIA ALMA DEIXADA NA VIDA DE TANTAS PESSOAS” (autor desconhecido)

          Um cordial e afetuoso abraço,
 
         Luciano Peccin e Família

        Gramado, 5 de agosto de 2011.