00:12- Onde vamos parar?

Na semana passada o governo revisou a sua meta de crescimento. Das tradicionais elucubrações do ministro Mantega, passou a seguir o mercado.

Esta semana, o mercado fez nova revisão. Relatório Focus trouxe mais do mesmo: mais inflação, menos PIB e mais juro.

A mediana das estimativas para a inflação oficial (IPCA) no ano que vem passou de 6,49% para 6,50%, o teto da meta.

A mediana das projeções para crescimento do PIB passou de 0,19% para 0,18% em 2014, e de 0,77% para 0,73% em 2015.

E a perspectiva para taxa Selic saiu de 12% para 12,50%.

A combinação de crescimento zero, inflação no teto da meta e juros nas alturas não é propriamente das mais agradáveis...

01:29- ... e um tanto contraintuitiva

Ora, a estagnação da economia não deveria exercer naturalmente uma pressão de desaceleração da inflação, uma vez que sugere menor demanda?

E ainda: a elevação dos juros, que pode ser entendida, grosso modo, como um fator encarecedor do crédito, também não seria um instrumento clássico para conter a inflação?

Então por que raios o IPCA não desgruda do teto da meta?

E como conseguimos crescer zero e ter pleno emprego?

02:14- Como explicar isto?

Atingimos uma posição um tanto esdrúxula em nossa economia atual, que dá margem para uma série de dilemas como os expostos acima.

Na semana passada enderecei um deles aqui no M5M:

Ao comparar os dados de PIA (população em idade ativa) e PEA (população economicamente ativa), chega-se à conclusão que as faixas etárias mais jovens estão simplesmente abandonando o mercado de trabalho...

Pior, o aumento mais recente na renda familiar faz com que muitos jovens deixem o mercado e não necessariamente para se qualificar mais (estudar), no que o economista Alexandre Schwartsman classifica como “pior combinação possível”: menos produtividade, menos qualificação e menos gente para trabalhar.

Temos, assim, um dos argumentos mais consistentes para explicar a desaceleração da atividade combinada a um cenário de pleno emprego.

Tá, temos parte do problema endereçado. Agora, como explicar o maior processo de desindustrialização da história com pleno emprego e inflação em riste?

03:11- A fórmula do encolhimento (a primeira vítima)

A indústria sofre com perda de produtividade combinada a desaceleração da demanda. Mas os salários e custos com matérias-primas não param de subir...

É mais ou menos assim...

Se você precisa de serviços, como tomar um taxi, cortar o cabelo ou uma escola dos filhos, fica bem mais difícil recorrer ao mercado externo.

Os serviços pressionam a inflação e, por conseguinte, os custos da manufatura local.

Mas, diferentemente do setor de serviços, a indústria sofre a competição do produto externo. Perde competitividade, não consegue repassar custos para a ponta final e absorve tudo em suas margens.


04:09- Vai ter rali de fim de ano?

Tudo conspira contra.

O Ibovespa acumula queda de 5,4% nos primeiros pregões do mês. Os fundamentos econômicos não ajudam: juros em alta, preços das commodities em baixa, ajuste fiscal por vir...

Mas, por outro lado, há sim, uma uma razão econômica para um possível sprint final...

Você já ouviu falar da fantástica fábula de dezembro?

Dos últimos onze dezembros, o Ibovespa não registrou alta em apenas um (2013).

Diversos fundos tentam marcar para cima o valor de suas cotas. Esses caras ganham taxa de performance e, além de balizar seus bônus de fim de ano, rentabilidades anuais servem de propaganda e, por isso, movimentações extraordinárias costumam ocorrer aos 45 do segundo tempo.

O Palmeiras que o diga.