A eleição e o hegeminismo

Luis Milman

Professor, jornalista

 

Se vivêssemos uma democracia constitucional consolidada, as próximas eleições seriam um exercício regular de escolha entre partidos que aceitam a alternância de poder. Mas não é o caso.  A disputa se dá entre um partido totalitário, o PT, que é hegemonista e pretende subverter a ordem constitucional por meio de decretos e plebiscitos, e os demais, com destaque para o PSDB, que operam no âmbito da constitucionalidade.  A grande vantagem tem estado com os totalitários, até porque enfrentam os partidos constitucionais com métodos de subversão, ao nível político e social, criando militância orgânica e clientelas permanentes do estado, que configuram um corpo de manobra cultivado na corrupção e concessões assistencialistas.

                Como grande parte do povo, em matéria de política, pensa com a barriga e não com a mente, os objetivos políticos do PT são atingidos pelo estímulo à  emocionalidade e pelo centralismo das decisões de cúpula. Nada a ver com a pregação democrática participativa, destinada a dar um sentido político à subserviência das massas que, na verdade, são cooptadas com eficácia clientelista. O PSDB oferece, ao contrário, uma política ponderada, de mais difícil penetração popular, porque desprovida de traços sentimentalistas e populistas. Neste quadro, o enfrentamento político se dá, no imaginário dos eleitores médios, entre medidas aparentemente, salvadoras, por um lado, e propostas de administração racionais, mas de menor compreensão popular, por outro. Acuados pela histrionice petista, que disfarça seu fracasso econômico, político e de gestão com uma superdose de oferta assistencialista, o PSDB e os partidos constitucionais acabam relegados a uma posição de coadjuvantes reacionários no curso do processo eleitoral e, assim, praticamente alijados do acesso ao poder pela máquina de propaganda do PT. Os constitucionalistas são associados à imagem de vendilhões da pátria, justamente pelo grupo que talvez seja o mais corrupto da história republicana e que, paradoxalmente, conseguiu atingir um patamar de elegibilidade quase inalcançável.

Os petistas creem que perder as eleições não é somente uma derrota eleitoral. É uma derrota existencial .Afinal, o PT é um partido que se empenha, ainda que pela via lenta, gramsciana, em implantar o marxismo no Brasil. Para os parâmetros do marxismo atual, sabemos quais são as próximas metas a alcançar: a progressiva ampliação do controle do estado sobre a sociedade, com a criação de conselhos populares na administração, organizados com base na militância partidária, e a intervenção na liberdade de imprensa, atualmente o maior obstáculo à sua pretensão hegemônica. Estas medidas são gestadas no Foro de São Paulo, a entidade multipartidária que reúne toda a esquerda latino-americana. O PSDB, diga-se de passagem, nunca a mencionou.

Se vencerem as eleições, os petistas tentarão investir sobre o ordenamento político-jurídico do país, com a criação de uma constituinte plebiscitária. E passarão a implantar o disfarce nos números sobre a economia, tentando cosmeticamente enfrentar os graves problemas da falta de crescimento e da inflação alta. Isto tem ocorrido na Venezuela e na Argentina. E significa depressão da atividade econômica e fuga de investimentos. O PSDB deveria ter percebido este quadro há muito tempo e ter se preparado, não apenas para uma eleição ou outra, mas para uma guerra cultural e política contra o totalitarismo.