Bolsa Família Estadual: O estelionato avança

Definitivamente, estamos vivendo um dos períodos mais delirantes da história política do Rio Grande do Sul. Parafraseando o triunfalismo lulesco de tão triste memória que até nossa presidenta procura agora se afastar de sua sombra, podemos dizer que “Nunca antes na história deste Estado” um governo teve a possibilidade quase onipotente de assaltar as conquistas estruturais do povo gaúcho, sob um silêncio complacente da mídia e da oposição. Escrevo “assaltar” no sentido de “tomar de assalto”, abruptamente, e não no de roubo propriamente dito, embora a confusão que algum leitor desavisado possa fazer, seja até compreensível.

Após retornar de seu inacreditável turismo incidental de 18 dias, o staff do governo estadual anuncia a implantação de uma versão estadual do Bolsa Família.  E o anúncio desta “política de gestão”, tende a ser recebido com aplausos. Afinal de contas, ninguém quer carregar o ônus de ser visto como alguém que é “contra ações afirmativas para os mais pobres”, com justificado medo de desgaste político. Eu, como não sou político, estou livre para pensar apenas com as ferramentas da lógica, e por isso me pergunto: De onde vai sair essa benemerência toda?

Desde seu primeiro instante no Palácio, o atual governo tratou de desconstruir todos os esforços de recuperação financeira das gestões anteriores. O discurso anunciava o caos financeiro, mas a prática vulgarizava a criação de cargos, funções gratificadas e aumentos de salário para a companheirada, sem contar as viagens e mordomias com que o atual governo se refestela com evidente deslumbramento mundano. Como se vivesse numa realidade paralela, o governo faz praça da miséria nos cofres, o que lhe motiva a propor à Assembleia um pacote de achaques ao bolso do contribuinte gaúcho: inspeção veicular, elevação da contribuição de aposentadoria dos servidores e outras maldades do gênero.

Agora, com a criação da versão gaudéria do Bolsa Família, um compromisso financeiro estratosférico deverá ser assumido por um Estado com as finanças já destruídas pela irresponsabilidade e gastança de um governo que apenas em seu primeiro semestre já torrou milhões sem acrescentar um pingo de qualidade aos serviços públicos, onde as estradas são uma vergonha, a segurança pública é um caos, a assistência técnica ao produtor está abandonada e os precatórios são desonrados maciçamente.

De fato, o modelo de desenvolvimento mudou. Ao invés de atrair investimentos para expandir a economia gaúcha, o novo governo pretende aumentar o número de estado-dependentes, com uma poderosa máquina de campanha eleitoral antecipada. E o pior é que, a julgar pelo nível do debate, este estelionato passará sem questionamentos.

Que Deus tenha piedade do nosso Rio Grande.

 

Tarso Francisco Pires Teixeira

Presidente do Sindicato Rural de São Gabriel

Vice Presidente da Farsul