O interrogatório do advogado Carlos Alberto Pereira da Costa à 13ª vara criminal da Justiça Federal paranaense foi juntado ao conjunto de provas elencado pelo MPF. Ele afirmou ao juízo que o vice-presidente da Camargo Corrêa, Eduardo Leite e o membro do conselho de administração, João Auler, teriam atuado como contatos do doleiro Youssef com a empreiteira. Leite foi flagrado em escutas telefônicas da PF. Pereira da Costa teve prisão preventiva revogada e pode ter condenação reduzida por colaboração com a Justiça.

 

A força-tarefa conta também com as informações prestadas pelo ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa. O Valor apurou que o ex-executivo forneceu detalhes sobre suposto esquema de propinas que teria sido pago por construtoras a políticos. Há um detalhe que permeia toda a investigação e que pode comprometer a comprovação do envolvimento de políticos. Grande parte do dinheiro movimentado a mando de parlamentares, segundo a PF e o MPF, teria ocorrido por meio de transações em dinheiro vivo. "É preciso que o Banco Central estabeleça controle rigoroso no sistema bancário. Fluxo de recurso em espécie é difícílimo de rastrear", alerta um responsável pela Lava-Jato.

 

Antes de trabalhar com a delação de Costa, os investigadores terão de aguardar a decisão do ministro relator no Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki. Ele pode dividir a Lava-Jato em duas frentes, uma no STF com os implicados que gozam de privilégio de foro e outra no juízo natural do caso, na Justiça Federal de Curitiba. Zavascki pode também manter tudo sob a competência do STF, mesmo que a última instância do judiciário não tenha sido concebida para amparar apurações que demandem estrutura e disposição de servidores, como na Lava-Jato.

 

"O mais interessante é que a prova é feita em cima do 'caixa 1'. As empresas de Youssef emitiram notas para a contabilidade oficial dessas empresas, empreiteiras e consórcios, porque isso tem de ser colocado no Imposto de Renda", esclarece um investigador. "Muitas empresas contrataram a mesma prestadora de serviços", diz.

 

O MPF ainda precisa concluir uma análise complexa, que consiste no cruzamento do CNPJ de todas as empresas que aparecem na Lava-Jato com a prestação de informações das empreiteiras à Receita.

 

Fontes ligadas ao caso confirmaram que duas grandes empreiteiras investigadas já enviaram advogados até a sede da força-tarefa no Paraná, em busca da construção de um acordo de leniência, alternativa que livraria executivos de eventual condenação criminal. Mas que, por outro lado, poderia resultar em pesadas multas.

 

O ex-ministro da Justiça, advogado Marcio Thomas Bastos, negou que seja o representante de um pool de empresas em negociação com os acusadores do caso Lava-Jato. "Eu represento duas empresas, a Camargo Corrêa e a Odebrecht. Reitero que ambas negam envolvimento em qualquer ato ilícito neste caso ou em qualquer outro", disse ao Valor Pro.

 

A Camargo Correa/CNCC informou que a empresa não pode se manifestar sobre encaminhamento jurídico que ainda não é oficial mas reiterou que 'jamais teve relacionamento comercial ou fez qualquer tipo de repasses para empresas ou pessoas ligadas ao sr. Alberto Yousseff'. A empresa informou estar à disposição das autoridades: "Temos convicção de que a lisura do Consórcio CNCC será reconhecida após os esclarecimentos nos fóruns cabíveis".

 

A Odebrecht afirma que seu nome aparece na Lava-Jato em razão de um erro de informação nos autos, que apontam para uma empresa de um consórcio com CNPJ diferente do da Odebrecht. Os investigadores afirmam, no entanto, que a empresa constará da acusação por prática de ilícitos que estariam comprovados nos autos. A empresa informou que o erro foi devidamente informado ao juízo de Curitiba, que acolheu o argumento dos advogados da empresa.

 

Procurada, a UTC informou: "Não há qualquer contrato de prestação de serviços ou uma única nota fiscal emitida pela UTC para as duas empresas citadas".

 

A Queiroz Galvão informou desconhecer o teor das investigações. A Iesa foi ouvida pelo MPF e negou envolvimento com o esquema de Youssef. A Toyo Setal, a Sanko Sider e a Egesa não retornaram aos pedidos de informação da reportagem.